Há tempos queria conhecer o comércio de livros usados das ruas
Amazonas e Quilca, no centro de Lima. Numa manhã cinzenta e úmida, tipicamente
limenha, decidi conhecer uma dessas ruas em busca do livro “Lo que Varguitas no
dijo”, de Julia Urquidi. No livro, Julia dá sua versão do romance que teve com
Mario Vargas Llosa, na época um jovem de 18 anos, com quem foi casada por
oito anos. A paixão pela tia inspirou
Vargas Llosa a escrever o excelente livro “Tia Julia e o Escrevinhador".
Preferi ir de táxi para evitar o tráfego pesado do centro e a
preocupação de encontrar lugar para estacionar. Entro no táxi, digo ao
motorista que queria ir ao jirón Amazonas.
Ele me pergunta se iria ao mercado de livros usados. Digo que sim, e em seguida
ele me avisa dos cuidados a tomar: a região é perigosa, não há policiais, fique
somente nas proximidades das lojas de livros.
Perguntei-lhe, então, sobre a outra rua, o jirón Quilca. Ele me disse que era mais segura, porque estava mais
perto de áreas policiadas. Além de ser mais próxima. Mesmo assim, recomendou-me
ter cuidado com a bolsa. Optei, então, pela rua Quilca.
Moro em Lima há dois anos, sinto-me segura e não passei por situação em
que me sentisse ameaçada. Vários bairros possuem uma guarda municipal, chamada Serenazgo, com módulos policiais fixos e
guardas que fazem ronda de bicicleta, moto e camionete.
Cada distrito de Lima
mantém seu Serenazgo. Bairros com maior arrecadação têm melhor policiamento – essas são
algumas das assimetrias que acontecem por aqui. Então, taxistas ou comerciantes
quando vêem um estrangeiro nas áreas menos seguras, logo avisam para ficar
atento e tomar cuidado. Foi o que fez o taxista.
Chego à rua Quilca. O taxista despede-se e, zeloso, sugere que, para eu voltar para casa, pegue um táxi na praça San Martin, lugar seguro e policiado a duas quadras dali.
Saio do táxi. Sebos vazios e poucas pessoas na pequena rua. Perambulo
pelas lojas. Nada do livro “Lo que Varguitas no dijo”. Edição esgotada, dizem
os vendedores.
No Boulevard de la Cultura, um
vendedor atencioso vai procurar em outras bancas se há uma cópia do livro.
Nada. No hay. Olho outros livros e
decido levar “País de Jauja”, do peruano Edgardo Rivera Martínez. Pago 35 soles
(cerca de 27 reais), espero o troco, enquanto me distraio com os livros das bancas
vizinhas.
Decepcionada por não encontrar o livro que procurava ("Lo que Varguitas no dijo"), caminho duas
quadras em direção à praça San Martin para pegar um táxi e voltar para casa.
São duas quadras de uma área degradada do centro de Lima, quase esquecida pelo
poder público. Uma pena para um lugar de comércio de livros.
Chego à praça San Martin, onde, de fato, havia vários guardas da Polícia Nacional e Serenazgo, um contraste com a rua dos
livros que acabava de deixar para trás.
Ui! Cadê o livro que comprei ? Volto à banca para resgatar meu “País de
Jauja”. Não estava mais, alguém havia levado o exemplar, deixado dentro de uma
sacolinha amarela sobre o balcão, enquanto esperava o troco e me distraía com outros
livros.
O vendedor, constrangido, diz gentilmente para eu escolher, sem pagar,
outros dois livros. Há Mario Vargas
Llosa, Alfredo Bryce, diz. Escolho apenas um exemplar de 15 soles (cerca de 12 reais), um
Santiago Roncagliolo, “Abril Rojo”. Ótimo, uma edição Alfaguara, novinha em
folha, ainda plastificada.
Em casa, tiro o livro da embalagem. Capa bonita e firme. Abro-o. Tudo
fotocopiado ! E algumas folhas um pouco apagadas. Nem parece cópia, diz meu
marido. Espero que não faltem páginas.
Da próxima vez, vou ao jirón
Amazonas.
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